sábado, 13 de agosto de 2011


Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011



Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira, desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore. Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos.

Clarice Lispector

sexta-feira, 5 de agosto de 2011


ASAS PARA VOAR

Uma águia empurrou gentilmente seus filhotes para a beirada do ninho.
Seu coração se acelerou com emoções conflitantes, ao mesmo tempo em que sentiu a resistência dos filhotes a seus insistentes cutucões.
Por que a emoção de voar tem que começar com o medo de cair?, pensou ela.
O ninho estava colocado bem no alto de um pico rochoso.
Abaixo, somente o abismo e o ar para sustentar as asas dos filhotes.
E, se justamente agora, isto não funcionar?, ela pensou.
Apesar do medo, a águia sabia que aquele era o momento.
Sua missão estava prestes a se completar, restava ainda uma tarefa final: o empurrão.
A águia encheu-se de coragem.
Enquanto os filhotes não descobrirem suas asas não haverá propósito para a sua vida.
Enquanto eles não aprenderem a voar não compreenderão o privilégio que é nascer águia.
O empurrão era o melhor presente que ela podia oferecer-lhes.
Era seu supremo ato de amor.
Então, um a um, ela os precipitou para o abismo.
E eles voaram!
Às vezes, nas nossas vidas, as circunstâncias fazem o papel de águia.
São elas que nos empurram para o abismo.
E quem sabe não são elas, as própria circunstâncias, que nos fazem descobrir
que temos asas para voar.